A foto de Cícero Lucena, Léo Bezerra, João Azevêdo e Lucas Ribeiro sentados à mesma mesa, nesta quinta-feira (4), diz muito mais do que as versões oficiais tentam fazer parecer. De um lado, assessores garantem que nada de política foi tratado. De outro, os próprios protagonistas repetem que se tratou apenas de um encontro institucional. Pode até ser verdade — mas ninguém que acompanha a cena política paraibana acredita que tamanha coincidência seja desprovida de simbolismo.

Até poucas semanas atrás, Cícero e João mantinham uma relação político-institucional de convivência pacífica. O arranhão veio quando o prefeito decidiu deixar o PP e assumir publicamente a pré-candidatura ao Governo do Estado, abrindo sua própria trilha para 2026 — justamente o lugar que João deixará em abril para disputar o Senado. Na mesma equação, entra o vice-governador Lucas Ribeiro, nome natural para concorrer à reeleição, e um PSB tensionado após o governador orientar o vice-prefeito Léo Bezerra a deixar a presidência da sigla na Capital por apoiar Cícero.

Ou seja: cada um dos quatro homens que dividiram a mesa leva consigo um conflito silenciado, um cálculo eleitoral em movimento ou uma ferida política ainda aberta. Não é pouca coisa.

Mesmo assim, todos estiveram juntos. E por quê? Porque, às vezes, a política precisa caber no mesmo espaço onde a institucionalidade exige grandeza — ou, ao menos, cordialidade territorial.

A assinatura do termo de cessão da Estação das Artes para abrigar o futuro Centro de Computação Quântica deu o contexto ideal para o que se convencionou chamar de “descompressão pública”. Um gesto que não apaga tensões, mas suspende, por alguns instantes, a disputa. O projeto, aliás, é maior que qualquer rusga: coloca João Pessoa na rota científica da nova economia, atrai investimentos, mobiliza pesquisadores e reposiciona a cidade em um patamar tecnológico sem precedentes.

Cícero entregou simbolicamente um equipamento do município ao Governo do Estado; João recebeu a estrutura para erguer um instituto que pode projetar a Paraíba nacionalmente; Lucas e Léo, cada qual diante de suas próprias travessias políticas, testemunharam um raro momento de sintonia institucional.

No fim das contas, o encontro pode até não ter tratado de política — mas, para quem observa, foi inteiramente político. E, às vezes, isso basta para mostrar que a disputa pode ficar temporariamente em segundo plano quando o interesse público exige mais maturidade do que militância.

Em um tempo de rachaduras e rompimentos súbitos, sentar-se à mesma mesa já é, por si só, um recado. E dos grandes.

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