#TBT Político: O dia em que Ronaldo Cunha Lima e Zé Maranhão romperam no Clube Campestre e dividiram a história política da Paraíba
Ronaldo Cunha Lima e Zé Maranhão protagonizaram um dos episódios mais embelmáticos da política paraibana - Foto: Reprodução

Foi numa noite de março de 1998, durante a comemoração do aniversário do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, já falecido, que um dos momentos mais marcantes da política paraibana se desenrolou. O palco do tradicional Clube Campestre, em Campina Grande, tornou-se o cenário do rompimento público entre Ronaldo Cunha Lima e o então governador José Targino Maranhão, também falecido. O episódio selou o fim de uma das mais poderosas alianças políticas do Estado e abriu uma nova era de disputas entre os dois grupos.

Segundo relatos históricos e análises de jornalistas e historiadores como Nonato Guedes e Jonas Duarte, Maranhão compareceu à festa levando ordens de serviço para obras em Campina Grande, como forma de homenagear o poeta e ex-governador. No entanto, o que seria um gesto de cortesia se transformou em um constrangimento político de proporções inéditas.

Durante seu discurso, Ronaldo, em tom inflamado, acusou Maranhão de descumprir compromissos políticos e desprezar Campina Grande, chegando a declarar que, se o governador não tivesse condições de governar, ele próprio assumiria o comando. As câmeras de televisão registraram o momento em que Ronaldo, com o dedo em riste, falava diretamente a Maranhão, sob aplausos e vaias de uma plateia dividida.

O gesto simbolizou o racha definitivo entre o “clã” Cunha Lima e o grupo maranhista, desatando uma crise que ecoaria por toda a política paraibana.

As origens da ruptura

O episódio do Campestre foi apenas o estopim de tensões que vinham crescendo desde que José Maranhão assumiu o governo em 1995, após a morte de Antônio Mariz, de quem era vice. Ronaldo e Cássio Cunha Lima, que apoiaram a chapa Mariz-Maranhão em 1995, esperavam manter influência nas decisões do novo governador — expectativa que não se confirmou.

De acordo com o analista Jonas Duarte, “os ronaldistas não suportavam mais os ‘não’ de Maranhão às suas reivindicações”. Ronaldo acreditava que ele e Cássio haviam sido fundamentais para a vitória da chapa e, portanto, deveriam continuar tendo peso nas decisões do governo. Maranhão, por sua vez, buscava consolidar sua própria liderança e imprimir um estilo autônomo de gestão, baseado no lema “Austeridade e Desenvolvimento”.

O direito à reeleição, aprovado nacionalmente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, acirrou os ânimos: Maranhão articulava sua candidatura à recondução, enquanto Ronaldo defendia que o nome do grupo fosse Cássio Cunha Lima, ainda jovem, mas já influente em Campina Grande. O choque de interesses tornou inevitável a colisão política.

Consequências do racha

O rompimento público teve consequências imediatas: Maranhão consolidou o controle do PMDB na Paraíba, afastando os Cunha Lima e garantindo com facilidade sua reeleição em 1998. Já Ronaldo e Cássio deixaram a legenda e ingressaram no PSDB, abrindo um novo ciclo político que culminaria, em 2002, na eleição de Cássio Cunha Lima ao governo do Estado.

Mesmo anos depois, o episódio continuava sendo lembrado como um divisor de águas. Nonato Guedes relembra em seu blog Os Guedes que, pouco antes de falecer, Ronaldo perdoou Maranhão e chegou a autorizar uma visita do antigo aliado ao seu leito, gesto que demonstrou grandeza e marcou a reconciliação simbólica entre dois gigantes da política paraibana.

Campina Grande, palco de influência política

Além do episódio em si, analistas destacam que o peso político de Campina Grande sempre foi determinante nas eleições estaduais. A cidade, berço de figuras como Ronaldo, Cássio, Veneziano Vital, Aguinaldo e Daniella Ribeiro, costuma “fechar questão” em torno de candidaturas com apelo regional.

“Campina irradia influência política sobre sua área de abrangência”, destacou Jonas Duarte, lembrando que nas eleições de 1986, 1990, 1994, 2002 e 2010, o voto campinense foi decisivo para eleger governadores como Tarcísio Burity, Ronaldo Cunha Lima, Antônio Mariz, Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho, este último pessoense, mas com apoio de Cássio e do grupo Cunha Lima.

Um episódio que virou lenda política

O rompimento no Clube Campestre é lembrado até hoje como um marco simbólico da política paraibana, representando o momento em que duas forças históricas — o grupo Cunha Lima e o grupo Maranhão — tomaram rumos opostos.

Entre discursos inflamados, câmeras ligadas e a reação do público, aquele aniversário de 1998 se transformou em um capítulo definitivo na história do poder na Paraíba, onde a poesia deu lugar à política — e a festa, à ruptura.

Sobre a coluna #TBT Político

O #TBT Político é uma coluna semanal do portal Poder Paraíba, publicada todas as quintas-feiras, que resgata episódios marcantes da política paraibana e nacional, relembrando fatos, bastidores e personagens que ajudaram a moldar a história do poder no Estado. A sigla TBT vem da expressão em inglês “Throwback Thursday” — literalmente, “quinta-feira da lembrança” —, popular nas redes sociais para relembrar momentos do passado. No contexto da coluna, o termo ganha um significado jornalístico: revisitar o passado político para entender o presente e projetar o futuro.

Relembre como foi o episódio do Campestre em imagens da época:

 

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