Regulação de redes sociais pode gerar alto nível de vigilância dos indivíduos - Foto: Reprodução/Pinterest
Regulação de redes sociais pode gerar alto nível de vigilância dos indivíduos - Foto: Reprodução/Pinterest

Após o ataque hacker sofrido pela primeira-dama brasileira, Janja Lula, a vimos e o presidente da República conversarem com o jornalista Marcos Uchôa durante o programa apresentado semanalmente pelo repórter e por Luiz Inácio Lula da Silva no Canal Gov. Um dos temas da conversa estabelecida pelos três foi justamente a invasão a conta pessoal de Janja no X [antigo twitter] e a visão dela e de Lula de que redes sociais precisariam ser reguladas no Brasil.  

Na realidade, a defesa pela regulamentação das redes sociais já é uma pauta antiga no discurso do chefe do poder executivo e não foi o ataque sofrido por sua esposa em uma conta pessoal que o despertou para tal necessidade. 

Pessoalmente eu temo que estes anseios de Lula e de Janja se confirmem, se o discurso de ambos se baseia na defesa do indivíduo e no combate a crimes cibernéticos, eu vislumbro muito mais que a população passará a viver uma realidade de vigilância nas redes sociais e uma forma de censurar todos aqueles que fomentem discursos que desagradam ao governo.  

Não podemos esquecer que uma característica dos principais governos ao redor do mundo em que a população goza de menos liberdades individuais uma das características comum a todos é a regulação da imprensa e da internet de modo geral. 

Lembremos da blogueira cubana Yoany Sanchez, que se tornou mundialmente famosa por conseguir manter um blog em Cuba durante o auge do regime castrista e de todas as dificuldades de acesso a internet que eram impostas aos cubanos de modo geral ou a ela de forma particular. 

Claro, não venho aqui fazer uma defesa em nome da liberdade de expressão que levaria muitos a acreditarem que mesmo aqueles que defendem crimes tenham a liberdade de atuarem na internet e de se expressarem, mas defendo que a internet não precisa ter o governo como um grande editor de conteúdo. 

Se na Idade Média era publicado o Index Librorum Proibitorum, ou no bom português o índice dos livros proibidos, corremos no Brasil o risco de ter uma versão semelhante. Podemos passar a termos de conhecer em nosso país o índice dos textos proibidões. Assim o governo conseguiria, em nome da defesa do indivíduo tirar do ar perfis, mensagens e sites inteiros que desagradassem ao governante no poder. 

Ainda concatenando como poderia vir a ser essa realidade, precisamos pensar que a principal célula do pensamento de direita no Brasil e no mundo tem sido a internet. Foi através da internet que o nome de Jair Bolsonaro passou a ser exaltado no Brasil e se tornou um presidente da República capaz de mobilizar metade da população nacional.  

Da mesma forma que no Brasil Bolsonaro passou a ser um mito graças a internet, deixando de ser o indivíduo de carne e osso para tornar-se a figura cibernética sobre a qual toda a direita brasileira projetou seus desejos e anseios. Também vimos surgir de forma parecida na Argentina a figura de Javier Milei, apoiado por adolescentes que criavam imagens dele com motoserras e leões Milei foi se tornando relevante no cenário político argentino culminando em sua eleição.  

É inegável, as redes sociais e a internet de modo geral são hoje um espaço no qual floresce o discurso da direita. Aqueles que defendem pontos de vista mais progressista indicam que isso se daria pela grande quantidade de desinformação que existe nas plataformas, portanto, regular as redes e impedir mensagens e notícias falsas poderia ser na visão do governo o remédio para tal problema.  

Com isso temo que possamos estar muito mais próximos de um futuro previsto pelo socialista George Orwell em suas obras do que qualquer um realmente desejaria. Podemos passar a ter que voltar a termos medo da censura e daquilo que falamos. Em um mundo em que a tecnologia se faz onipresente não seria distante o temos vivido pelos personagens do livro 1984 daquele que realmente vivenciaríamos por sempre podermos estarmos juntos aos olhos e ouvidos do grande companheiro.  

Precisamos sim rejeitar toda e qualquer forma de crime nas redes sociais, mas também lutar para garantir que as mesmas mantenham a sua principal característica desde a gênese da internet, a liberdade de permitir ao indivíduo se expressar e ser quem ele deseja ser.