Protagonista de uma imersão em uma das obras mais icônicas de Ronaldo Cunha Lima, “Habeas Pinho” — que finalizou as filmagens recentemente — o ator Lucas Veloso traz à tona a essência do humanismo e a força da poesia que marcaram a trajetória do poeta e político paraibano. Filho do icônico humorista Shaolin, mergulha profundamente no personagem e proporciona uma performance que vai além da mera imitação, busca capturar a alma do poeta. Na entrevista a seguir, Lucas compartilha sua jornada no mundo do entretenimento, a influência do seu pai e os desafios enfrentados na preparação para “Habeas Pinho”. Confira:
Lucas, você cresceu em um ambiente artístico, sendo filho do humorista Shaolin. Como foi sua carreira no mundo do entretenimento?
No início, a comparação de “será que é igual ao pai?” me incomodou bastante. Depois fui entendendo que precisava realmente evoluir, descobrir minha identidade e o mais importante: escolher a quem ouvir. Muitos dos conselhos que recebemos no início, são frutos de algum tipo de inveja ou não são para o bem. Enfim, aprendi a escolher as opiniões que me importam, e decidi mostrar ao mundo que não vim aqui ser o segundo Shaolin, sou o primeiro Lucas Veloso. Meu pai foi a maior inspiração de todas. Ouvi muito ele falar sobre o começo e lembrar de um detalhe: não foi fácil. Ele não nasceu pronto, precisou estudar igual a todos os grandes como Chico Anysio, José Vasconcellos e muitos outros. Ele não se cansava em buscar conhecimento e isso se tornou minha maior característica como profissional. Sou aluno para sempre. Uma vez ele disse “os profissionais fabricaram o Titanic. Os amadores, a arca de Noé”. Para sempre amador.
Você é conhecido por sua versatilidade como ator e comediante. Como lida com os diferentes desafios entre atuar em comédia e em papéis mais dramáticos?
Enxergo como uma maneira de me tirar do conforto. Gosto quando algum desafio parece ser maior que eu, me faz querer crescer. Vim num looping de 10 anos fazendo show de comédia, foi uma loucura controlada, foi incrível, mas estava sentindo necessidade de algo novo, mais difícil. A obra “Habeas Pinho” me reconectou com meu lado ator, foi desafiador, emocionante e apaixonante.
Como surgiu o convite para interpretar Ronaldo Cunha Lima em “Habeas Pinho”?
Gal Cunha Lima, filha de Ronaldo, em certo dia, me ligou convidando para fazer o convite, e quando entendi do que se tratava, mal deixei ela falar e já aceitei. Cresci vendo meu pai imitando Ronaldo, o carinho dele por toda família, me atrevo a dizer que me sinto parte da família até. Além de ser um boêmio legítimo, também conheço toda obra do poeta, sou um grande fã! Qual fã iria negar interpretar um ídolo?!
Ao longo da sua carreira, você interpretou diversos personagens. Qual papel foi o mais desafiador para você até agora e por que?
Acredito que Ronaldo Cunha Lima tenha sido o de maior dificuldade porque ele realmente existiu, marcou momentos, tempos e pessoas. Não tive liberdade de criar, tive que encontrar o estado de espírito do poeta e deixar ele se manifestar, como uma entidade que vem passar o seu recado.Algo que não dá pra explicar. Acho que no fundo do coração. Na intimidade de cada emoção ainda tem traços dele no meu DNA.
Como você se preparou para interpretá-lo e quais foram os maiores desafios nesse processo?
Procurei entender quem era o Ronaldo poeta, o pai, o político, o marido, e entendi o humanista, então busquei viver ele por alguns dias antes das gravações para ter domínio das sensações de ser ele. Depois disso, meu trabalho foi procurar desaparecer e deixar apenas Ronaldo em cena.
Seu pai, Shaolin, era conhecido por suas imitações de Ronaldo Cunha Lima. Como essa ligação pessoal influenciou sua atuação no filme?
Apesar de a imitação ser algo forte no meu sangue, procurei esquecer isso um pouco. Uma coisa é imitar e ser parecido, outra coisa é ser Ronaldo. A imitação pode ter uma aparência fiel, mas não tem profundidade o bastante para contar histórias, é preciso viver. Minha maior escola nesse período, foi o próprio Ronaldo.
Como foi o processo até agora, de receber o roteiro e gravar?
Fisicamente, foi bastante cansativo, saí de um projeto longo onde dormia apenas duas horas por dia, meu corpo estava exausto, precisei de ajuda de médicos e hospital para conseguir cumprir a missão, mas nada iria me impedir de viver Ronaldo. Comemorei o último dia de filmagem com um cansaço e felicidade únicos e o sentimento de que ainda há muito para dizer sobre o poeta.
Quais são suas expectativas para o impacto de “Habeas Pinho” tanto no público paraibano quanto no nacional? O que você espera que as pessoas levem dessa história?
“Habeas Pinho” não é uma história sobre poesia, é sobre um humanista, um super-herói. Quando se entende o que é Habeas Pinho, você passa até a acreditar mais nas pessoas.
O que mais te inspira na vida e obra de Ronaldo Cunha Lima e como você espera transmitir essa inspiração para o público por meio do filme?
Um homem que simplesmente dedica seus versos para soltar um violão qualquer de um pobre cantador que havia perdido ele para suas próprias emoções… preciso falar mais algo? Veja o tamanho do coração dele. Acho que todos somos um pouco ‘Ronaldo Cunha Lima’, por isso ele foi e é tão amado pelo povo. Espero que as pessoas entendam o porquê aquela petição foi escrita.