Em João Pessoa, lideranças do Partido Democrático Trabalhista (PDT) estão em rota de colisão com a direção municipal. Nesta semana, um grupo enviou uma carta à Executiva Nacional da legenda solicitando intervenção no Diretório da capital paraibana. O estopim da crise é a gestão do vereador João Almeida, atual presidente do partido no município, acusado de transformar a legenda em uma espécie de extensão familiar e de seu gabinete.
De acordo com os signatários da carta, as decisões partidárias têm sido concentradas em um pequeno núcleo de aliados e familiares do vereador, sem respeito ao diálogo democrático ou à inclusão de outras lideranças no colegiado. “Os destinos do PDT, em João Pessoa, agora são decididos na mesa do café da manhã do vereador João Almeida, em completo desrespeito às regras democráticas”, criticou o ex-vereador Júnio Leandro, um dos principais porta-vozes da insatisfação.
Nepotismo no diretório
Entre as críticas apontadas, destaca-se a presença de familiares e assessores diretos de João Almeida nos cargos de direção do Diretório Municipal. Dos 15 membros que compõem o colegiado, seis têm vínculo próximo com o parlamentar. A lista inclui sua irmã, Juliana Carneiro de Carvalho, responsável pela Secretaria de Organização Estatutária e Administrativa, e sua esposa, Leilah Luahnda Gomes de Almeida, membro do diretório.
Outros apontados são o chefe de gabinete, Halley de Lucena Melo Júnior, que ocupa o cargo de representante da Fundação Leonel Brizola; o cunhado, Luís Eduardo Leal Nunes, adjunto de Comunicação; a tesoureira Maria Aparecida Santos de Queiroz, que é secretária pessoal de Almeida; e Wiliana Fernandes Correia, assessora pessoal e representante dos Núcleos de Base.
“Isso é a prova do completo desrespeito com as lideranças, que são o motivo de existência de um dos principais partidos do Brasil. Aqui, na Paraíba, a memória de Leonel Brizola é jogada no lixo todos os dias por dirigentes que, claramente, não estão preocupados com a representação democrática no partido, que, aliás, virou um puxadinho familiar de João Almeida”, lamentou Júnio Leandro.
Falta de diálogo e apoio nas eleições
As críticas também se estendem à direção estadual do PDT, acusada de negligenciar as lideranças da capital durante o último pleito eleitoral. Segundo o grupo, a verba partidária foi priorizada para candidaturas com pouca viabilidade e de cidades menores em detrimento de candidatos de maior destaque.
As lideranças insatisfeitas cobram da Executiva Nacional o envio de um dirigente para mediar os interesses do partido na Paraíba, já que consideram inexistente o diálogo com a atual gestão estadual. “As decisões tomadas nas eleições do ano passado foram esquizofrênicas, prejudicando lideranças históricas em favor de candidatos inexpressivos”, afirmou Leandro.
Próximos passos
A Executiva Nacional do PDT ainda não se pronunciou oficialmente sobre o pedido de intervenção. Enquanto isso, a crise no Diretório Municipal de João Pessoa expõe um racha interno que pode afetar a organização do partido na Paraíba, comprometendo sua atuação em ano pré-eleitoral.
Confira abaixo a íntegra da carta enviada ao presidente Nacional do PDT, André Figueiredo e ao ex-presidente e filiado histórico, Carlos Lupi, atual ministro de Estado da Previdência Social no Governo Lula:
À Sua Excelência, Senhor Presidente da Direção Nacional do PDT
Dr. André Figueiredo
Os filiados abaixo relacionados vêm, por meio desta missiva, expressar sua surpresa e indignação com a inclusão de alguns dos nomes subscritores, à revelia destes, na nominata de composição do diretório municipal do PDT em João Pessoa/PB, sem que houvesse sequer prévia consulta ou consentimento dos mesmos. Essa prática fere os princípios democráticos que norteiam as decisões dentro do nosso partido.
Diante do exposto, solicitamos a imediata destituição integral do referido diretório e a abertura de discussões para a formação de uma nova nominata ou, na remota hipótese de manutenção desta, que sejam excluídos os nomes do Vice-Presidente Marcos Vinícius Sales Nóbrega, do Secretário-Geral João Eduardo Moraes de Melo, da Secretária de Assuntos da Mulher Valquiria Brito Urtigas, de Helena Maria Duarte de Holanda, Junio Leandro Azevedo de Macedo, e Kleber Geraldo Laurentino dos Santos. É imprescindível que, uma vez destituída, nessa nova composição seja construída com a participação e a assinatura de todos os filiados que aceitarem participar, bem como a definição clara dos respectivos cargos.
Além disso, ressaltamos que a condução da eleição municipal de 2024 foi marcada pela total falta de apoio da Executiva Estadual do partido aos pré-candidatos no município de João Pessoa-PB. Essa ausência de suporte resultou em sérios prejuízos, inclusive na perda da conquista da terceira vaga na Câmara Municipal de João Pessoa, devido à falta de repasse do fundo partidário eleitoral. É alarmante observar que enquanto os pré-candidatos da capital enfrentaram dificuldades, os municípios de Campina Grande e alguns do interior do Estado da Paraíba receberam os respectivos valores que não se refletiu na capital, evidenciando uma dissonância preocupante em relação à estratégia do partido. Em nenhuma dessas cidades, o partido conseguiu lograr êxito em eleger qualquer candidato.
Por fim, é importante mencionar que na atual composição do diretório constam nomes que sequer figuram como pré-candidatos a vereador, o que demonstra a falta de alinhamento e representatividade necessária para um grupo que deve zelar pelos interesses do PDT em João Pessoa. Urge esclarecer, que diversas pessoas integrantes dos mais diversos cargos da referida executiva estadual, são parentes ou aliados do atual presidente.
Diante do exposto, ao tempo em que informamos que há perene dificuldade de diálogo com a executiva estadual, solicitamos que um membro da executiva nacional seja destacado para iniciar as tratativas no sentido de congregar e alinhar os interesses do partido no estado da Paraíba.
Aguardamos uma resposta urgente sobre essas demandas e a expectativa de que possamos retomar o caminho da unidade e da participação ativa de todos os filiados no processo democrático do partido.
“A política ama a traição e odeia o traidor”
Leonel Brizola.
Atenciosamente,
Marcos Vinícius Sales Nóbrega
Helena Maria Duarte de Holanda
João Eduardo Moraes de Melo
Júnio Leandro A de Macedo
Kleber Geraldo Laurentino dos Santos
Valquíria Brito Urtigas
Antônio Fernando dos Santos (Fernando Gás)
Francisco José Silva das Chagas
Niedson dos Santos Miguel (Nenê de seu mano)
Amanda Sandrelly Diniz da Rocha
Sérgio Da Silva Araújo Pastor Sérgio