
Em entrevista concedida ao final de sua visita à Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou estabelecer um prazo para a devolução dos valores desviados dos pagamentos de aposentados e pensionistas do INSS. Lula atribuiu a responsabilidade pelo esquema à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), destacando a necessidade de apuração minuciosa antes de definir os próximos passos.
Segundo o presidente, é necessário identificar precisamente o número de pessoas afetadas e separar os casos de consentimento dos de fraude. “Devolver ou não vai depender de você constatar a quantidade de pessoas enganadas. A quantidade de pessoas que tiveram o seu nome numa lista sem que elas tivessem assinado. Porque aqueles que assinaram já autorizaram. Então, o que nós queremos, e é por isso que tem a crítica de que ainda demora, é porque poderíamos ter feito uma pirotecnia e não ter apurado (o escândalo)”, afirmou Lula.
Lula ressaltou que o governo pretende agir com responsabilidade e evitar “pirotecnias” que poderiam distorcer o processo de apuração dos fatos. O presidente reforçou que a prioridade é identificar os verdadeiros responsáveis antes de definir qualquer medida de devolução.
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Responsabilização da gestão anterior
O presidente atribuiu o surgimento do esquema fraudulento à administração passada. “Nós desmontamos uma quadrilha que foi criada em 2019. E vocês sabem quem governava o Brasil em 2019”, disse Lula, em referência direta ao governo Bolsonaro. Ele também mencionou que o esquema teria envolvimento de ex-integrantes da gestão anterior: “Vocês sabem quem era o ministro da Previdência, quem era o chefe da Casa Civil. A gente poderia ter feito um show de pirotecnia, mas não queríamos manchete. Queríamos apurar.”
Além disso, Lula sugeriu que membros do governo passado poderiam estar envolvidos nas irregularidades. “Nós vamos a fundo para saber quem é quem nesse jogo. E se tinha alguém do governo passado envolvido nisso. É isso que nós vamos fazer. Eu não tenho pressa. O que eu quero é que a gente consiga apurar para apresentar ao povo brasileiro a verdade e somente a verdade”, declarou.
Entidades sob investigação e responsabilização financeira
O presidente destacou que nem todas as entidades envolvidas nos descontos indevidos em contracheques de aposentados e pensionistas são culpadas. “Tem entidades sérias no meio que certamente não cometeram nenhum crime, e tem entidades que foram criadas para cometer crime”, explicou.
Lula também afirmou que os aposentados e pensionistas lesados não terão que arcar com os prejuízos, garantindo que a conta será paga pelas entidades fraudulentas. “Quem vai ser prejudicado são aqueles que um dia ousaram explorar o aposentado e o pensionista brasileiro. As entidades que roubaram vão ter seus bens congelados. Nós vamos usar esses bens, repatriar o dinheiro, para que a gente possa pagar as pessoas”, assegurou.
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Esquema bilionário e desdobramentos
A operação que revelou o esquema foi conduzida pela Polícia Federal (PF) em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo as investigações, a fraude envolvia descontos indevidos em contracheques de aposentados e pensionistas por sindicatos e associações, totalizando cerca de R$ 6,3 bilhões nos últimos anos.
Após a descoberta do esquema, seis servidores públicos foram afastados, e o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão. Em meio à crise, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), também deixou o cargo após reunião com Lula.
Lula concluiu sua fala reforçando que a profundidade da investigação justifica o tempo necessário para revelar o que de fato aconteceu. “A gente não quer uma manchete de jornal, a gente quer apurar […] e é por isso que tem a crítica de que ainda demora, é apurar com seriedade. Tanto a CGU como a Polícia Federal foram a fundo para chegar ao coração da quadrilha”, finalizou.