
Nesta terça-feira (29), a partir das 17h, a Academia Paraibana de Letras (APL) será palco do lançamento do livro A Construção da Democracia no Brasil/1985-2025: Mudanças, metamorfoses, transformismos (232 páginas), de autoria do historiador paulista Alberto Aggio. O evento, que integra o projeto Pôr do Sol Literário da APL, contará com a presença do autor, que será acompanhado por um debate com o historiador José Otávio de Arruda Mello e o presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, Jean Patrício.
O livro, publicado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e pela Editora Annablume, faz parte do projeto 40 Anos de Democracia no Brasil. Durante o evento, a obra será comercializada tanto no local quanto pela internet. Alberto Aggio, que é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente e titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), também possui pós-doutorados nas universidades de Valencia, na Espanha, e Roma Tre, na Itália.
Em entrevista, o autor abordou as complexidades que envolvem o período de 1985 a 2025, um marco na política brasileira, caracterizado por avanços e desafios. Para Aggio, as crises atuais geram uma sensação de incerteza, o que torna crucial o papel da História como uma ferramenta de compreensão, sem se deixar manipular por narrativas simplistas. “As crises atuais continuam a produzir uma sensação generalizada de incerteza. A história não parece mais prosseguir por curvas e rupturas significativas, em direção a uma civilização de progresso”, afirmou o escritor.
Ele destaca que o livro é, essencialmente, uma tentativa de entender o Brasil pós-1985 como um campo de “história política” e “história do tempo presente”, ao se debruçar sobre a construção da democracia e os seus impasses. Para Aggio, os últimos 40 anos foram um período “virtuoso” na medida em que os brasileiros conquistaram a democracia mais longeva de sua história, embora o caminho tenha sido repleto de tensões e processos inconclusos.
Aggio analisa a “Nova República” como um período de ganhos significativos, mas também de falhas, principalmente no que tange à redução das desigualdades sociais e à democratização plena das relações entre Estado e cidadãos. Para o autor, apesar da instalação de um regime democrático, o Brasil ainda enfrenta desafios econômicos e sociais que dificultam o avanço pleno da democracia: “A pobreza e a desigualdade ainda permanecem como problemas fundamentais, apesar das iniciativas dos governos democráticos”, pontuou.
Ele descreve o cenário político como uma “revolução passiva”, onde a mudança foi dirigida pela conservação, permitindo avanços, mas sempre à sombra de tensões políticas e sociais.
O autor também discute a ascensão e a permanência do PT como uma força política central no Brasil, especialmente durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Aggio, o PT conseguiu se reconfigurar e se solidificar não apenas pela defesa de causas ideológicas, mas também pela adoção de uma “economia do afeto”, que uniu as classes trabalhadoras através do sentimento de pertencimento. Para o autor, essa cultura política foi fundamental para o sucesso eleitoral do partido e para sua influência nas disputas políticas do país.
“O PT foi capaz de ressignificar a polarização ‘governo versus oposição’ e, a partir disso, consolidar sua ideia de identidade com os ‘de baixo’”, explicou Aggio.
A obra de Alberto Aggio busca ir além da simples narrativa histórica. É uma tentativa de entender a construção da democracia no Brasil como um processo inacabado, permeado por lutas, impasses e “incompletudes”. O livro propõe uma reflexão crítica sobre os principais atores políticos e as escolhas que definiram a trajetória recente do Brasil.
“É um livro de intervenção intelectual e política”, afirmou o autor. E conclui que a história política recente do Brasil, marcada por avanços e retrocessos, precisa ser compreendida de forma crítica, valorizando as vitórias conquistadas ao mesmo tempo em que se reconhecem os desafios que ainda persistem.