
O mundo se despediu nesta segunda-feira (21) de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano e jesuíta da história, que faleceu aos 88 anos após não resistir a um quadro de pneumonia bilateral. O anúncio foi feito pelo cardeal Kevin Farrell, em vídeo divulgado pelo Vaticano: “Às 7h35 desta manhã (2h35 em Brasília), o bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai”.
Ao longo de seus 12 anos de pontificado, Francisco deixou um legado de humildade, proximidade com os pobres e defesa intransigente da dignidade humana. Mas também marcou sua trajetória por reflexões profundas sobre a política — sempre abordando o tema sob a ótica do Evangelho e da responsabilidade social dos cristãos.
Fé, política e bem comum
Francisco jamais viu contradição entre espiritualidade e engajamento político. Para ele, era exatamente na arena política que o cristão era chamado a atuar em favor da justiça e do bem comum. “Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos”, declarou em uma de suas falas mais conhecidas sobre o tema.
Para o Papa argentino, a política, embora desacreditada por muitos, era uma das formas mais elevadas da caridade. “Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum”, afirmou.
Sua visão crítica e profética também se manifestou ao denunciar estruturas sociais excludentes e ideologias que ignoravam a dignidade dos mais pobres. “A preocupação com o pobre não é uma invenção do comunismo e não deve ser transformada em ideologia, como tem acontecido tantas vezes”, disse, buscando romper com visões distorcidas que rotulavam sua fala como partidária.
Política como vocação
Francisco acreditava na nobreza da política. E, por isso, exigia de quem nela se envolvesse compromisso autêntico, até mesmo heroico. “A política é uma atividade nobre. É preciso revalorizá-la, exercendo-a com vocação e uma dedicação que exige testemunho, martírio. Ou seja, morrer pelo bem comum”, afirmou.
Sempre atento às transformações do mundo, o Papa alertava para os riscos de manipulações ideológicas travestidas de debates políticos: “Não sejamos ingênuos, não se trata de uma simples luta política. É uma pretensão destrutiva ao plano de Deus”.
Uma herança de consciência
As declarações de Francisco sobre política se somam às de outros pontífices da história da Igreja, como Bento XVI, João Paulo II, Leão XIII e Pio XI — todos defensores do papel da fé na vida pública e da responsabilidade moral dos cristãos em contextos políticos.
Bento XVI, por exemplo, afirmava que os pastores da Igreja tinham o dever de emitir juízo moral, mesmo em temas políticos, quando a dignidade humana estivesse em risco. “Quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas.”
Papa Francisco, com sua linguagem acessível e postura pastoral, reacendeu esse papel profético da Igreja: de não apenas confortar os corações, mas também provocar consciências.
Agora, com sua partida, resta ao mundo refletir sobre as sementes deixadas por seu pontificado. Um Papa que não teve medo de sujar as mãos pela justiça e que acreditou, até o fim, que fé e política não são opostas — mas, quando bem vividas, complementares na missão de construir um mundo mais justo e fraterno.
Confira as frases:
“Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos”. (Papa Francisco)
“Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum”. (Papa Francisco)
“A política é uma atividade nobre. É preciso revalorizá-la, exercendo-a com vocação e uma dedicação que exige testemunho, martírio. Ou seja, morrer pelo bem comum” (Papa Francisco)
“[A preocupação com o pobre] não é uma invenção do comunismo e não deve ser transformada em ideologia, como tem acontecido tantas vezes”. (Papa Francisco)
“Não sejamos ingênuos, não se trata de uma simples luta política. É uma pretensão destrutiva ao plano de Deus”. (Papa Francisco)
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