
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, tem uma “audiência” marcada com a deputada estadual Cida Ramos — destaquei a expressão entre aspas porque foi usada pela presidenta estadual do PT em entrevista ao programa Correio Debate, ontem. A pedido de Lucena, a conversa acontecerá amanhã, quarta-feira, na residência de Cida Ramos, como também fez questão de frisar a entrevistada.
Quando o apresentador principal do programa, Lázaro Farias, lembrou que o PT se tornou a “noiva” mais cobiçada da próxima eleição — desde 2010 tem sido assim, — cortejada hoje pelos principais candidatos a governador, Lucas Ribeiro, Cícero Lucena e Adriano Galdino, Cida Ramos recorreu ao termo mais repetido pelos dirigentes petistas desde 2010, quando o partido foi disputado entre o então governador e candidato à reeleição, José Maranhão, e o então prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, candidato pela oposição: protagonismo. Antes, porém, de mencionar a “audiência” com Cícero Lucena, Ramos fez questão de lembrar que o PT apoia o governo e o governador João Azevedo, do PSB, o mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin. E que também tem dialogado com Lucas Ribeiro, do PP.
Instada por Fábio Araújo, o outro âncora do Correio Debate, a comentar sobre a ideia, já bastante consolidada entre os dirigentes petistas, de o partido fincar os pés em dois palanques — no de João Azevedo e no de Veneziano Vital, candidato ao Senado —, Cida Ramos utilizou outro argumento, também bastante recorrente, esse desde 2019, do petismo paraibano, para justificar a permanência no governo após o racha entre Ricardo Coutinho e João Azevedo:
“O PT em momento algum quis a divisão do campo do governo João Azevedo. Essa divisão não fomos nós que provocamos. Nós não temos, do ponto de vista político, nenhuma presença na divisão entre Cícero e Lucas.”
Em 2019, lembremos, o PT ficou com João Azevedo e abandonou Ricardo Coutinho.
Cida Ramos prosseguiu, reforçando que a prioridade do PT em 2026 é estar em um palanque que apoie Lula e que ofereça as melhores condições para eleger deputados federais e estaduais. Bem, eu imagino que um palanque de um governador candidato à reeleição seja muito propício à realização desse projeto, não é mesmo?
Cida Ramos não foi direta, mas deixou tudo muito claro quem já conquistou o coração da “noiva”, embora seja do interessa dela e dos agrupamentos que a apoiam no PT que Cícero Lucena mantenha seu empenhopara levá-la ao altar no próximo ano. Quanto maior for o interesse demonstrado pelo prefeito pessoense, maior será o dote que Lucas Ribeiro e João Azevedo (quem sabe, até Hugo Motta) terão de oferecer.
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Enfim, que Cícero Lucena vá à “audiência” com Cida Ramos para cumprir uma formalidade política — certamente recomendada pelo presidente nacional do PT, Edinho Silva. Mas sem muitas ilusões sobre ter o apoio do PT da Paraíba em 2026 — aliás, Veneziano teve o apoio de Lula e do PT nacional, mas a maioria do PT local apoiou João Azevedo.
O que não significa que Cícero Lucena não possa contar com o apoio de Lula e da direção nacional petista. Muito pelo contrário. Como a própria Cida Ramos deixou escapar, o PT da Paraíba será consultado — como foi em 2022, por exemplo — mas, como indica a tradição, será Lula quem vai decidir sobre que palanques estaduais ele vai subir no próximo ano, e esse cálculo vai muito além da Paraíba, cuja maioria do eleitorado votará para reeleger o atual presidente independente de palanque.
Aqui no estado, Cícero, esse jogo já foi jogado.