
A semana que passou entrará para a história como um marco de descolamento entre a Câmara dos Deputados e a sociedade brasileira. Sob a batuta do presidente da Casa, o paraibano Hugo Motta (Republicanos), os parlamentares aprovaram a toque de caixa a chamada PEC da Blindagem — um projeto que, em vez de proteger a democracia, busca blindar políticos de investigações e processos criminais no Supremo Tribunal Federal (STF). Uma proposta que, sem rodeios, representa um tapa na cara da população.
E como se não bastasse, no mesmo compasso, foi aprovada a urgência do Projeto de Lei da Anistia, que pretende livrar da devida punição os envolvidos pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Um ataque não apenas à Justiça, mas à própria memória recente de um país que assistiu, estarrecido, a tentativa de ruptura democrática.
O resultado dessa combinação tóxica foi imediato: o levante popular voltou às ruas. Movimentos sociais, partidos de esquerda e cidadãos indignados, que há tempos encontravam dificuldade em mobilizar multidões, viram no pacote de retrocessos votados pela Câmara o estopim para uma reação. Ironia das ironias: Hugo Motta e a turma do Centrão/extrema direita podem ter cometido o maior erro estratégico dos últimos anos. Ao tentarem blindar seus próprios interesses, abriram espaço para fortalecer a narrativa de Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje se beneficia politicamente desse despertar da sociedade contra o arbítrio e a impunidade.
E os efeitos já começam a se refletir no campo político. Deputados federais da direita — muitos deles pressionados por suas bases — recorrem às redes sociais para pedir desculpas pelo voto favorável à PEC. Da bancada paraibana, dos 12 deputados, nada menos que 10 chancelaram a proposta. O constrangimento é tamanho que resta apenas saber quem será o primeiro a tentar reverter publicamente a posição.
É inegável que o episódio abre uma ferida na relação entre eleitores e representantes. A Câmara, com essa decisão, jogou contra a democracia e contra a própria credibilidade institucional. Mas a história ainda não terminou. A última palavra estará com o Senado Federal, que tem agora a missão de enterrar essa aberração legislativa e devolver ao país a confiança de que o Congresso ainda é capaz de corrigir seus erros.
A pergunta que fica é: os senadores terão coragem de rejeitar a PEC da Vergonha ou escolherão caminhar pela mesma trilha de descrédito que hoje assombra a Câmara?
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