Por Flávio Lúcio
A entrevista que o deputado federal Aguinaldo Ribeiro concedeu, ontem (29), aos jornalistas Heron Cid e Wallison Bezerra, durante o programa Hora H, da Pop FM, foi um convite para o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, deixar o Progressistas. Ribeiro não deixou margem para dúvida: a vaga de candidato a governador na eleição do próximo ano já está reservada a Lucas Ribeiro, possível sucessor de João Azevedo e sobrinho de Aguinaldo Ribeiro. Portanto, a postulação de Cícero Lucena é incompatível com os planos que a família Ribeiro tem para 2026.
Ribeiro também condenou explicitamente as conversas do prefeito de João Pessoa com partidos e políticos “fora do grupo”, ou seja, à revelia do acordo já consolidado entre o próprio Aguinaldo, Hugo Motta e João Azevedo, o que foi interpretado por ele como “traição”: “Quem quiser trair aquilo que foi construído no grupo, aí é problema de cada um. Eu cumpro a minha parte, e espero que os demais cumpram também. Cada partido tem sua discussão interna.”
Não sei os termos da “discussão interna” do Progressistas, nem se existe uma decisão formal a respeito do candidato do partido a governador, muito menos se o prefeito de João Pessoa participou dessas conversas. Um fato, porém, parece óbvio nessa pendenga: o prefeito da maior cidade do estado e, segundo todas as pesquisas até agora divulgadas, o candidato mais competitivo entre aqueles já lançados, não tem legitimidade para postular sua candidatura ao governo dentro do próprio partido, porque esse desejo afronta os interesses da família que comanda o Progressistas, partido de Cícero Lucena.
A entrevista ajudou a revelar, sem meios-termos, o plano hegemonista que Aguinaldo Ribeiro projeta para um futuro breve. Segundo ele, “qual a racionalidade de abrir mão do que já temos? Trabalhamos muito para eleger Cícero. Agora que podemos ter também o governador, por que ceder? Não é momento de aventuras, é momento de racionalidade”. A racionalidade é Cícero se dobrar, como já fez em outras ocasiões, aos objetivos que não são necessariamente os seus. Além disso, notem: Aguinaldo Ribeiro planeja ter o controle das duas máquinas administrativas mais poderosas do estado (governo estadual e prefeitura da capital), dando margem para antecipações a respeito de que será ele (Aguinaldo) o sucessor de Lucas Ribeiro na eleição seguinte, a de 2030. O resultado, caso o plano prospere, será um acúmulo de poder nas mãos de uma única família jamais visto na Paraíba. Adriano Galdino farejou o plano faz tempo. Hugo Motta, também? Parece que não.
Aguinaldo Ribeiro esquece, porém, que o único pássaro na mão que o Progressistas tem é a prefeitura de João Pessoa, já que a ascensão de Lucas Ribeiro ao governo continua a depender, embora seja hoje o mais provável, de João Azevedo sair do governo para disputar o Sanado.
De qualquer maneira, o recado está dado a Cícero Lucena. Para não deixar margem para dúvidas , o prefeito de João Pessoa ficou sabendo que o candidato do Progressistas ao governo será conhecido nas próximas semanas, em reunião partidária a ser convocada para as próximas semanas, outro fato inusitado que ajuda a revelar o tamanho do trator que Aguinaldo Ribeiro comanda. É esse trator que começou a ser acelerado na direção do prefeito de João Pessoa.
Cícero Lucena vai permanecer na frente e se deixar ser atropelado?
*Artigo publicado a partir do Blog Pensamento Múltiplo.
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