Vitamina C - Foto: Freepik

*Por Nelson Justino

Semana passada, um paciente me indagou se poderia continuar a consumir sua vitamina C (na forma de suplemento) na dosagem de 2000 mg ao dia. Prontamente respondi-lhe que não, explicando-lhe que esta era uma dosagem demasiadamente elevada para o seu organismo. Ao passo que o mesmo me retorquiu: – Mas Doutor, eu faço 30 minutos de esteira e musculação todos os dias, e eu vi no Instagram de “não sei quem” que a vitamina C nesta concentração diária era excelente não apenas para a melhora de minha performance física como também para a aceleração de minha hipertrofia muscular”.

Primeiramente, de acordo com a FAO/OMS, a necessidade diária de vitamina C para um adulto é de aproximadamente 90 mg. Entretanto, alguns autores sugerem uma ingesta de 150 a 500 mg ao dia para indivíduos fisicamente ativos ou atletas, devido ao aumento do estresse oxidativo provocado pelo exercício físico.

Segundo vários estudos reportam que o organismo humano não absorve mais do que 300 mg de vitamina C por ingesta. Quando um indivíduo realiza um consumo de 1000 mg de Vitamina C (concentração comumente encontrada nas drágeas dos suplementos dessa vitamina) ele irá excretar através de sua urina pelo menos 700 mg dessa vitamina, causando uma sobrecarga renal e sem, contudo, exercer nenhum efeito fisiológico benéfico ao seu organismo. Ou seja, é completamente inútil e desnecessário ingerir dosagens superiores a 300 mg em uma tacada só, uma vez que seu organismo não irá absorver o excedente!

Terceiro, se sua alimentação for balanceada e rica em folhas, legumes, verduras e frutas não há necessidade nenhuma de suplementação de vitamina C, independente do seu estado fisiológico ou grau de atividade física.

Obviamente que a indústria farmacêutica tem conhecimento sobre esses aspectos bioquímicos e fisiológicos da Vitamina C, mas por questões mercadológicas não as disponibilizam para os consumidores. E sob a premissa de que altas dosagens possam trazer cada vez mais benefícios, a população é induzida a consumir concentrações cada vez mais elevadas de Vitamina C, podendo atingir um quadro de Hipervitaminose.

Falando em atividade física…

Muitas pessoas fisicamente ativas e atletas acreditam que altas dosagens de complexos vitamínicos podem potencializar o desempenho físico. Estas premissas, no entanto, não são suportadas pela literatura científica. Ao contrário, muitos estudos têm reportado que altas dosagens de suplementos antioxidantes têm efeitos nulos ou negativos sobre os processos de adaptação induzidos pelo exercício físico.

E para finalizar, altas dosagens dessa vitamina (acima de 1500 mg, por vários dias) podem diminuir a biodisponibilidade do cobre e da vitamina B12, causar diarreia e desconforto abdominal, promover a formação de cálculos renais em indivíduos pré-dispostos, Fadiga e alterações cardíacas nos exercícios prolongados e ainda interferir nos níveis bioquímicos de glicemia, ácido úrico e creatinina.