
O discurso do senador Efraim Filho (União Brasil) sempre foi cirúrgico e ensaiado: do lado de lá, o “governismo” estaria em crise, afogado em ameaças de rompimento e disputas internas. Mas bastou a primeira oportunidade de garantir um apoio de peso — o do bolsonarismo, via Partido Liberal (PL) — para que Efraim atravessasse a ponte sem olhar para trás. Fez isso sem consultar, ouvir ou sequer respeitar os aliados com quem vinha marchando até aqui: Pedro Cunha Lima (PSD), Romero Rodrigues (Podemos), Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e até mesmo o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, filiado ao seu próprio partido.
O gesto unilateral desmonta a narrativa repetida como um mantra nos últimos meses: “O melhor nome da oposição será o candidato ao governo”. Não será. Agora, há a imposição de um nome — Efraim Filho — que se lançou, com apoio explícito do PL, como pré-candidato ao governo da Paraíba, sem qualquer sinal de recuo.
Ao abraçar o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como seu pré-candidato ao Senado, e deixar em aberto a vaga de vice-governador e outra para o Senado Federal para futuras negociações, Efraim deixa claro que não está mais jogando em grupo. Está jogando por si. E quem quiser acompanhá-lo, que entre na fila — a fila do bolsonarismo paraibano.
Não adianta mais Romero Rodrigues se chatear e ir a imprensa cobrar diálogo dentro da oposição. O trem já passou. O “senador do Foguete” — como gosta de se apresentar — decidiu que será candidato com ou sem consenso, com ou sem aliança, com ou sem viabilidade eleitoral. Talvez porque saiba que, mesmo derrotado, continuará com mandato no Senado até 2030, manterá protagonismo e garantirá palanque para o bolsonarismo no estado. Ele não tem nada a perder.
O efeito prático dessa decisão é o risco de uma cisão real dentro da oposição. E uma nova articulação pode estar a caminho: um bloco mais moderado, liderado por Pedro Cunha Lima e Veneziano Vital do Rêgo. Pedro tentará resgatar o espaço do centro democrático, enquanto Veneziano, aliado de primeira hora do presidente Lula (PT), precisará compor uma chapa menos radicalizada para viabilizar sua reeleição ao Senado em 2026. Há, portanto, espaço para a formação de um novo polo, mais palatável ao eleitorado de centro e até de centro-esquerda, dependendo da conjuntura.
Essa nova frente pode ainda se beneficiar de possíveis dissidências do próprio grupo governista, que também enfrenta disputas internas por espaços e protagonismo. O tabuleiro segue em movimento.
No fim das contas, o jogo político mudou de fase. O prego foi batido, a ponta virou, e Efraim Filho escancarou a nova ordem: a unidade da oposição virou página virada. Agora, é cada um por si — mas quem quiser segui-lo e aderir ao bolsonarismo, os braços estão abertos. Desde que ele esteja na cabeça da chapa.
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