
O aborrecimento evidenciado por Cícero Lucena diante das recorrentes perguntas sobre a manutenção de seu apoio à candidatura de João Azevêdo ao Senado indica que o prefeito de João Pessoa não está preocupado em antecipar decisões levando em conta as estratégias da oposição.
A repetição da pergunta, entretanto, tinha uma justificativa: a cobrança feita pelo senador Veneziano Vital do Rêgo durante entrevista ao Correio Debate, da 98 FM. Segundo Vital do Rêgo, a manutenção do apoio de Lucena a Azevêdo está criando dificuldades para a escolha do segundo nome da chapa ao Senado, o que acabaria prejudicando a sua própria reeleição.
Além de fazer sentido — já que não há qualquer acordo fechado —, o prefeito segue firme na estratégia de seu grupo, que, por enquanto, passa por não romper definitivamente com João Azevêdo. A demonstração de firmeza de Cícero Lucena busca deixar claro, desde já, que ele não pretende embarcar no discurso da oposição, pelo menos como deseja Pedro Cunha Lima, que, na semana passada, saiu do exílio político voluntário para passar esse recado.
O cuidado de Cícero Lucena faz sentido. A boa avaliação do governo João Azevêdo é um obstáculo que até Pedro Cunha Lima precisa considerar, porque a política paraibana de 2025 não é a mesma de três anos atrás. Nesse contexto, a questão principal que a oposição precisa responder é: quem será o principal adversário a ser derrotado, João Azevêdo ou Lucas Ribeiro? A resposta a essa pergunta terá, necessariamente, desdobramentos estratégicos.
Isso não significa, acredito eu, que Cícero Lucena manterá João Azevêdo como um de seus candidatos ao Senado. Essa é outra questão. Há um de jogo paciência entre os dois sobre de quem será a iniciativa, e que passa, acredito, por João Azevedo declarar que não deseja o apoio de Cícero Lucena, que o governador só dará quando tiver certeza que Nabor Wandereley não fará acordos com a oposição, sobretudo em Campina Grande. Nos dois casos, Veneziano Vital chora de barriga cheia, porque, caso tudo prossiga como está, terá o apoio dos prefeitos das duas maiores cidades da Paraíba no próximo ano.
Por ora, a estratégia discursiva de Cícero Lucena parece ser a de apontar deficiências — que, claramente, existem — e defender mudanças em determinadas áreas, sem propor uma ruptura geral, já que também pode se apresentar, na mesma condição que Lucas Ribeiro, como parte do projeto. O mesmo, porém, não vale para o vice-governador, que terá que demonstrar suas qualidades pessoais, sua experiência e, em razão de sua origem política, a representatividade necessária para liderar o projeto administrativo iniciado, não esqueçamos, por Ricardo Coutinho, em 2011, mesmo que com as inovações introduzidas por João Azevedo. Da mesma forma que seria um erro atacar Lula, também não soaria bem para o eleitorado que avalia positivamente o governo de João Azevêdo — a ampla maioria —, apresentar-se como um candidato que deseja romper com o atual modelo.
Se for isso mesmo, a dúvida a ser resolvida é se a oposição — ou seja, os Cunha Lima e Veneziano Vital do Rêgo — estará disposta a aceitar a estratégia de Cícero Lucena, que deve ser colocada em prática com o máximo cuidado, pois um erro de cálculo pode lhe custar a vitória. E Cícero não pode errar, por razões óbvias.
Além disso, o prefeito pessoense sabe que a oposição depende mais dele do que o contrário, e não porque acredite que possa vencer a eleição em faixa própria (não creio), mas porque Cícero tem a opção de concluir os mais de três anos de mandato à frente da prefeitura da maior cidade da Paraíba, o que, convenhamos, não é pouca coisa.
Portanto, interpreto a declaração de ontem de Cícero Lucena como um recado direto a Veneziano Vital e Cia.: até que um amplo acordo seja fechado, da minha estratégia cuido eu.