
*Por Flávio Lúcio
Ao que parece, os dias que passou na Europa permitiram ao prefeito de João Pessoa tanto uma avaliação mais ajustada do quadro político e eleitoral da eleição para governador, quanto de sua disposição para entrar na disputa.
A presença do prefeito de João Pessoa em Campina Grande, ontem, uma terça-feira, para acompanhar o governador João Azevedo em evento no Centro de Convenções, Lucena deixou de lado as metáforas eleitorais a respeito de “cavalos selados”, e pela primeira vez deixou claro sua disposição de ser candidato, sem a condicionante de ser uma escolha consensual do bloco governista.
Duas frases ditas por Cícero Lucena ontem merecem destaque: “Se a Paraíba entender que eu sou o melhor nome para disputar o governo, eu aceito o desafio” e “se eu for candidato, se eu for escolhido, principalmente pelo povo, obviamente que eu estarei pronto para cumprir a minha missão. Se eu ajudar o estado, eu estou querendo, e muito.” Notaram que a ênfase recaiu não nos grupos políticos, mas na “Paraíba” e no “povo”? Uma mudança e tanto no discurso de Cícero Lucena.
Desde os primeiros dias de 2025, a conversa de Lucena estava focada na necessidade de se construir um nome consensual do bloco governista para disputar o governo. O que mudou? Até o resultado da eleição de 2024 em João Pessoa, por razões obvias, Lucena não era apontado ainda como um nome entre os possíveis sucessores de João Azevedo.
Depois da expressiva vitória na Capital, e diante de um quadro de disputa aberta entre o presidente da Assembleia, Adriano Galdino (Republicanos), e o hoje vice-governador, Lucas Ribeiro, que deve assumir a titularidade do cargo quando João Azevedo deixar o governo para disputar o Senado, o prefeito reeleito de João Pessoa começou a se apesentar diante do impasse como um nome de consenso, um tercius, um terceiro. Embora ainda muito distante do começo da campanha, pesquisas divulgadas começaram a reforçar o discurso de Cícero Lucena ao mostrarem sua força eleitoral.
Nas últimas semanas, entretanto, o nome de Adriano Galdino não apenas não se consolidou como alternativa, como o que se viu foram reiteradas manifestações do governador João Azevedo que não deixavam dúvida sobre a consequência política de sua decisão de deixar o governo para disputar o Senado: a posição de vice-governador de Lucas Ribeiro o coloca hoje como provável candidato a governador. E Lucas Ribeiro nunca se fez de rogado não deixando margem para qualquer dúvida sobre sua candidatura ao governo em 2026. Até contratou equipe de rede social para seguir seus passos nas andanças pela Paraíba.
E mais. Reuniões entre João Azevedo, Hugo Motta e Aguinaldo Ribeiro, uma delas pública, passavam o recado muito eloquente de que, entre eles, havia unidade, posição que foi confirmada durante uma visita de João Azevedo e Lucas Ribeiro a Patos, em que os dois foram fotografados ao lado de Nabor Wanderlei, de sorrisos abertos e mãos empilhadas.
Portanto, ficou evidenciado de que os apelos de Cícero Lucena por um nome de unidade, sobretudo com melhor desempenho nas pesquisas — o dele próprio, — não haviam prosperado e que, caso ele mantivesse o discurso do tercius não haveria outra opção para o prefeito de João Pessoa, a não ser negociar a indicação de um nome na chapa majoritária, provavelmente o de vice-governador (ou vice-governadora).
O próximo passo de Cícero Lucena para demonstrar que sua disposição de ser candidato a governador, independente de um acordo da base governista em torno do seu nome, deve ser levada a sério, será sair do Progressistas. E por uma razão tão óbvia, quanto necessária: caso Lucena se mantenha no seu partido atual, o mesmo do vice-governador, ele continuará a depender de um acordo com os Ribeiro. Portanto, caso Cícero Lucena se mantenha no Progressistas, a situação de sua candidatura continua a mesma.
Cícero Lucena dará esse passo definitivo?