
Se o propósito da reunião entre Aguinaldo e Daniella Ribeiro com Cícero Lucena, realizada ontem em Brasília, era dissuadir o prefeito de João Pessoa de desistir de sua candidatura ao governo do Estado no próximo ano, não apenas não se confirmou como acabou tendo o efeito oposto ao pretendido — e não apenas para os Ribeiro.
Talvez tardiamente, o governador João Azevêdo e Hugo Motta tenham percebido que perderam o timing da dissuasão — se é que ele existiu em algum momento. Só ontem, Cícero Lucena foi formalmente apresentado ao “prato feito” da chapa majoritária, elaborado em reuniões fechadas nos últimos meses entre João Azevêdo, Hugo Motta e Aguinaldo Ribeiro — encontros que começaram ainda em 2023. Nessa receita, caberia a Cícero apenas participar do retoque final, talvez indicando o candidato a vice. Enquanto isso, o vice-governador, Lucas Ribeiro, ocuparia o lugar mais cobiçado da chapa, com João Azevêdo e Nabor Wanderley concorrendo ao Senado.
Não pretendo aqui ensinar padre-nosso a vigário, mas sempre me perguntei por que o prefeito do maior colégio eleitoral do Estado, sobretudo após se reeleger com ampla vantagem, aceitaria essa condição secundária — quase um bate esteira, um coadjuvante de luxo. Talvez o Cícero Lucena de 2002 ainda estivesse vivo na memória dos três, quando, também prefeito da capital, contentou-se com o papel de apoiador de Cássio Cunha Lima, mesmo podendo ter sido o candidato de consenso que reunificaria o PMDB à época, como defendia o então governador José Maranhão.
Pois bem, o Cícero Lucena de 2025, fortalecido por sua expressiva vitória para mais um mandato à frente da Prefeitura de João Pessoa, quer agora liderar, e não mais seguir, que afora ser o puxador, e não mais o bate esteira. Ele parece vislumbrar o “cavalo selado” apregoado por seus apoiadores, o mesmo que deixou passar em 2002, mas que, após dar a volta completa, volta a se aproximar. Uma metáfora muito adequada sobre as voltas que o mundo dá: Cícero terá uma improvável segunda chance na política, mesmo após ter se declarado aposentado dela.
O Cícero Lucena de hoje carrega consigo uma trajetória marcada por sacrifícios e traições, que o tornou imune a apelos em nome de outros projetos. E, se desta vez não se pode falar em traições — ninguém no grupo governista traiu ninguém, pois tudo foi feito às claras —, trata-se de mais um sacrifício que lhe pedem. E se há uma palavra que Cícero Lucena não quer mais ouvir talvez seja essa: sacrifício.
Cícero voltou de Brasília mais candidato do que nunca.