Brasileira que morou em João Pessoa é julgada por tráfico no Camboja e família denuncia armação de quadrilha internacional
Daniela foi para o Camboja com intuito de trabalhar com telemarketing — Foto: Arquivo Pessoal

A brasileira Daniela Marys de Oliveira, de 35 anos, foi julgada na madrugada desta quinta-feira (23) no Camboja, acusada de tráfico de drogas. O resultado do julgamento será divulgado apenas no dia 12 de novembro, segundo informou sua mãe, Myriam Marys. Se condenada, Daniela pode pegar até 20 anos de prisão.

Arquiteta de formação e fluente em inglês, Daniela vivia em João Pessoa, na Paraíba, desde novembro de 2024, onde morava antes de embarcar para o país asiático no início deste ano. De acordo com a família, ela teria sido vítima de tráfico humano ao aceitar uma proposta de trabalho em telemarketing no Camboja.

Segundo relato da mãe, Daniela foi enganada por uma quadrilha internacional que recrutava brasileiros para aplicar golpes virtuais no Sudeste Asiático. Quando se recusou a participar das atividades criminosas, os golpistas teriam forjado um flagrante, implantando cápsulas de drogas no local onde ela estava hospedada.

“Minha filha disse que colocaram três cápsulas de droga no banheiro depois que ela se negou a participar do esquema. Ela foi presa injustamente”, contou Myriam Marys.

Até fevereiro de 2025, mãe e filha se comunicavam normalmente por mensagens. No mês seguinte, a família começou a receber mensagens suspeitas, enviadas por supostos golpistas se passando por Daniela. Eles exigiram US$ 4 mil (cerca de R$ 27 mil) alegando uma “multa contratual”. Após o pagamento, a arquiteta conseguiu fazer uma ligação e revelou ter sido detida por tráfico de drogas.

Condições precárias na prisão

De acordo com relatório da Anistia Internacional, o Camboja enfrenta superlotação carcerária e violações sistemáticas de direitos humanos. A mãe de Daniela afirma que a filha está em uma cela com cerca de 90 mulheres, sem acesso adequado à alimentação e higiene.

“As autoridades atacam pessoas pobres e marginalizadas, realizam detenções arbitrárias e sujeitam os presos a tortura e maus-tratos”, aponta o documento.

A prisão de Daniela ocorre sob o governo de Hun Manet, filho do ex-primeiro-ministro Hun Sen, que comandou o país por quase quatro décadas e implantou uma rígida política antidrogas criticada por organizações internacionais.

Itamaraty acompanha o caso

O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) confirmou que acompanha o caso por meio da Embaixada do Brasil em Phnom Penh, mas ainda não se manifestou oficialmente sobre o julgamento.

O episódio reacende o debate sobre o Protocolo de Palermo, ratificado pelo Brasil em 2004, que define o tráfico humano como crime internacional e considera irrelevante o consentimento da vítima quando há fraude, coação ou abuso de poder.

Especialistas lembram que, mesmo que Daniela tenha aceitado viajar, se houve engano ou exploração, ela é legalmente considerada vítima de tráfico de pessoas, conforme o tratado da ONU.

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