Foi o jornalista Maurílio Júnior quem se apercebeu do fato e registou em seu blog. O deputado federal Luiz Couto, do PT, resolveu finalmente se manifestar sobre a eleição para a Prefeitura de João Pessoa e anunciou hoje seu apoio ao deputado estadual Luciano Cartaxo. Como Luiz Couto é uma espécie de alter ego político de Ricardo Coutinho — como se sabe, nos último 15 anos, o deputado petista demonstrou mais fidelidade ao ex-governador do que ao próprio partido, — é quase certo que essa seja também a posição de RC.
Trata-se de um mistério o motivo para tanto atraso na publicização desse apoio de Couto a Cartaxo, já que há meses o debate sobre quem deve representar o partido na eleição capital paraibana corre solto na militância do PT pessoense e na imprensa. E os muros, ao que parece, nunca foram lugares aprazíveis para Luiz Couto.
De qualquer maneira, esse era um segredo de polichinelo porque as movimentações de um de outro eram tão reveladoras tanto quanto óbvios são os motivos que levaram antigos desafetos políticos, como Couto, Coutinho e Cartaxo, a agora fazerem se aliarem.
A pergunta é retórica, mas é válida: o que haveria de tão problemático numa manifestação da adesão de Couto para que Luciano Cartaxo volte a ter, como em 2012, a legenda do PT para se eleger (novamente) prefeito de João Pessoa?
E por que essa manifestação de apoio acontece no dia seguinte à decisão da Executiva Nacional do PT que anulou a decisão da Direção Municipal do partido que havia marcado a prévia que escolheria Cida Ramos candidata a prefeita do partido em João Pessoa?
O local escolhido para a revelação de Luiz Couto ajuda a responder às duas indagações acima. Ao invés de uma entrevista coletiva em João Pessoa, o deputado federal petista preferiu um insosso discurso no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, que, como se sabe, é um local adornado de cima a baixo por tapetes.
Incapaz de vencer a prévia no voto, restou a Luciano Cartaxo e seus apoiadores os tapetes de Brasília, mais uma vez, o apelo à intervenção da Direção Nacional contra a quase unanimidade construída em torna de Cida Ramos.
Como eu lembrei no início, as trajetórias de Luiz Couto e Ricardo Coutinho praticamente se fundiram depois de 2008. Na eleição de 2010, era do PT o vice de José Maranhão — o então deputado estadual Rodrigo Soares: Luiz Couto votou em Ricardo Coutinho. Em 2012, o PT tinha candidato a prefeito de João Pessoa — o então deputado estadual Luciano Cartaxo, que se elegeria: Luiz Couto votou e Estela Bezerra. Em 2016, o PT tinha candidato a prefeito de João Pessoa — o professor da UFPB, Charlinton Machado: Luiz Couto votou em Cida Ramos, então no PSB de Ricardo Coutinho.
Apenas quando as posições de Ricardo Coutinho e do PT coincidiram — 2014 e 2018, — é que Luiz Couto pôde dizer que seguiu as orientações partidárias.
De qualquer maneira, o movimento quase em desespero de Luiz Couto e Ricardo Coutinho parece infrutífero. Primeiro, porque é muito improvável que Lula dê seu aval para uma intervenção em favor de quem, há sete anos, o chamou de corrupto, preferindo os braços da direita que derrubaria, meses depois, Dilma Rousseff da Presidência, movimento que se completou com a prisão de Lula por mais de 500 dias. Além disso, o desempenho de Cartaxo não é lá essa Brastemp para merecer da parte da Direção Nacional uma intervenção que resultaria numa crise, agora de contornos imprevisíveis.
Ou Cida Ramos será a candidata do PT, ou a opção da Direção Nacional petista será pelo apoio a Cícero Lucena. Cartaxo é carta fora do baralho faz tempo.
*Artigo republicado do Blog Pensamento Múltiplo.