As batalhas judiciais enfrentadas por Jair Bolsonaro (PL) e seu aliado político Donald Trump podem levá-los a destinos políticos diversos. Enquanto muitos tem por certa a inelegibilidade de Bolsonaro no Brasil, analistas políticos apontam um fortalecimento de Trump com as batalhas judiciais que ele enfrenta.
O ex-presidente brasileiro é acusado de abuso de poder político e econômico por ter convocado uma reunião com embaixadores para fazer falsas acusações ao sistema eleitoral. Além deste caso, Bolsonaro é alvo de inquéritos por fake news e milícias digitais há dois anos e também enfrenta investigações pelos atos de 8 de janeiro, por falsificação de cartão vacinal e pelo caso das joias presenteadas pelo governo saudita e retidas na Receita Federal.
Já Trump tem duas investigações abertas contra si e outros dois indiciamentos (veja mais detalhes abaixo). Ele enfrenta, por exemplo, acusações criminais por manusear documentos confidenciais depois que deixou a Casa Branca.
Se as trajetórias de ambos são tão semelhantes enquanto estiveram no coração do poder, nos últimos meses, porém, o roteiro das histórias tem tomado rumos opostos.
Longe de ferir a imagem pública de Trump, os revezes judiciais parecem — até agora — ter dado força ao republicano. Ele desponta como o favorito para se consolidar não apenas como o candidato do partido republicano, como sustenta boas chances de voltar a ocupar a Casa Branca em 2025, segundo pesquisas eleitorais.
De acordo com o agregado de pesquisas do site americano FiveThirtyEight, em meados de fevereiro, dias antes dos indiciamentos, Trump tinha 41,9% das intenções de voto nas primárias republicanas, contra 38,7% do governador da Flórida Ron DeSantis, seu principal oponente.
Agora, Trump registra 51,9%, contra 23,8% de DeSantis. Ou seja, a diferença que foi de pouco mais de 3 pontos percentuais subiu para mais de 28 pontos após os indiciamentos.
Embora ainda falte mais de um ano para a disputa, Trump já aparece entre 3 e 4 pontos percentuais à frente do presidente Joe Biden, provável candidato democrata em 2024, nas sondagens nacionais.
Já Bolsonaro viu seus auxiliares mais próximos serem presos em casos que respingam na imagem do próprio ex-presidente e foi aconselhado pelos líderes da direita brasileira a submergir desde que deixou o posto. Ele admitiu esta semana em entrevista à Folha de S.Paulo que “a tendência, o que todo o mundo diz, é que eu vou me tornar inelegível”. O tom resiliente de Bolsonaro contrasta com as manifestações abundantes de Trump que acusa a Justiça americana de “caça às bruxas”.
Pesquisas de opinião recentes têm sugerido que eleitores bolsonaristas começam a avaliar positivamente o governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com levantamento da Quaest divulgado em 21 de junho, entre os que votaram 22 no ano passado, a aprovação do governo Lula passou de 14% para 22%. Já sobre a inelegibilidade do ex-presidente, o país está dividido, com ligeira vantagem dos que querem o impedimento de Bolsonaro: 47% a 43%.
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