Casada com um vereador de Campinas-SP apoiador de Jair Bolsonaro (PL), a procuradora da República Gabriela Saraiva de Azevedo Hossri foi designada, na semana passada, para a investigação sobre as joias de R$ 16,5 milhões que o governo do ex-presidente tentou trazer ilegalmente ao Brasil. Ela, no entanto, pode não assumir o caso.
De acordo com o Portal g1, Gabriela Hossri, que é da Procuradoria de Guarulhos-SP, já havia pedido, em janeiro, remoção (transferência) para Osasco. A mudança para a cidade vizinha foi publicada em Diário Oficial da União em 7 de março.
Como a procuradora está em férias, a tendência é que mude de procuradoria quando voltar. Ou seja, antes de assumir de fato as investigações.
O MPF confirmou, na quinta-feira (9), que já começou a analisar toda a documentação enviada pela Receita Federal sobre as joias. Um procurador substituto cuida dos procedimentos.
Nelson Hossri já postou fotos e vídeos com o ex-presidente durante a gestão dele e com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL).
Hossri disse ao g1 que nunca foi o símbolo do bolsonarismo, mas de pautas da direita. “Defendo e participo dos movimentos de direita em Campinas desde 2015. Optar em apoiar Bolsonaro é um direito meu. Me identifico mais com suas pautas do que com as pautas da esquerda. Ponto”, disse em nota.
Mais reservada nas redes, a procuradora da República mantém um perfil no Twitter com apenas um post desde 2019. Em 15 de junho daquele ano, respondeu a um tweet do senador Sérgio Moro (União Brasil) – quando ele ainda era ministro de Bolsonaro – sobre uma operação que erradicou plantações de maconha na fronteira. A resposta da procuradora foi com emojis: 👏🏻👏🏻👏🏻
As joias milionárias
No âmbito da Polícia Federal (PF), a expectativa é que os depoimentos comecem nesta semana.
Em outubro de 2021, uma comitiva do governo Bolsonaro, liderada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, voltava de uma viagem oficial à Arábia Saudita.
Ao passar pela alfândega do aeroporto de Guarulhos, um assessor de Albuquerque, que havia optado pela fila do “nada a declarar”, foi parado por agentes da Receita.
Os fiscais descobriram que o assessor carregava joias na mochila. Os itens são avaliados em R$ 16,5 milhões.
Albuquerque disse que eram um presente do governo saudita para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Para entrar legalmente com as joias no país, a comitiva deveria ter declarado os itens e pagado imposto.
Ou então, deveria ter listado os itens como um presente de Estado. Nessa hipótese, as joias ficariam com a União, e não com a família Bolsonaro.
Como nada disso foi feito, as joias ficaram retidas na Receita. O governo Bolsonaro tentou diversas vezes retirar os itens de lá, sem pagar o que era devido.
Entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2016 fixou que joias recebidas como presente por presidentes não são acervo pessoal, e sim patrimônio do Estado brasileiro.