programa Fantástico, da TV Globo reconta a história de Vaqueirinho
programa Fantástico, da TV Globo reconta a história de Vaqueirinho

O programa Fantástico, da TV Globo, repercutiu na noite deste domingo (7) a reportagem “A vida interrompida de Gérson: da infância sem cuidado à tragédia no zoológico”, recontando a história de Gerson de Melo Machado, o “Vaqueirinho”, jovem de 19 anos morto após invadir o recinto da leoa Leona, no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa. O caso, que chocou o país, não se resume à cena trágica registrada em vídeo: revela uma vida marcada pelo abandono, pela negligência e pela falta de acompanhamento adequado para seus transtornos mentais.

Gerson convivia desde cedo com esquizofrenia, além de viver afastado da família e desassistido pelo poder público. Apesar das sucessivas crises, ele jamais recebeu tratamento psicológico contínuo. O jovem passou por internações no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, mas sempre retornava à vulnerabilidade das ruas e à ausência de suporte familiar. A própria Justiça reconheceu sua inimputabilidade e determinou, no final de outubro, a internação em uma instituição de longa permanência por considerar insuficiente o tratamento ambulatorial disponível.

De acordo com a conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou Gerson por anos, sua trajetória sempre esteve atravessada por abandono. Ele viveu em instituições de acolhimento até completar a maioridade. A mãe, também com esquizofrenia, perdeu o poder familiar; o pai era ausente; e as avós e irmãos enfrentavam quadros semelhantes, resultando na adoção de quatro deles — menos Gerson, que nunca encontrou um lar permanente.

A história do garoto, segundo Verônica, carrega episódios dolorosos. Aos 10 anos, foi encontrado pela Polícia Rodoviária Federal vagando em uma rodovia, procurando pela mãe. Mesmo diante do desespero da criança, a família não pôde recebê-lo de volta — decisão judicial já havia determinado seu afastamento para preservá-lo.

Já adulto, Gerson alternava períodos de acolhimento institucional, momentos de rua e passagens pelo sistema prisional. Segundo familiares, ele buscava no Presídio do Roger a sensação de proteção que não encontrava na vida cotidiana. Muitas das ocorrências policiais envolviam ações simples, como jogar pedras em viaturas, para ser levado ao local onde dizia sentir-se seguro.

A diretora do Caps Caminhar, Janaína D’Emery, onde ele era atendido, relatou que Gerson recusava internações e sequer aceitava regimes de cuidado mais intensivos, como o atendimento 24 horas. Mesmo assim, o órgão tentava mantê-lo em atividades e medicação periódica.

Para a prima Ícara Menezes, a maior falha foi estrutural. Ela afirma que a família fez o que pôde, mas que Gerson precisava de políticas públicas efetivas:
“Era um menino neurodivergente com mentalidade de 4 anos. Ele não era agressivo, nem marginal. Faltou acompanhamento. Faltou cuidado do Estado.”

A avó do jovem, com quem ele morava, foi uma das pessoas mais abaladas durante o velório, realizado na segunda-feira (1º). A despedida encerra simbolicamente uma vida atravessada pela falta de suporte e expõe, mais uma vez, as dificuldades enfrentadas por jovens neurodivergentes abandonados à própria sorte.

A repercussão nacional do caso reacende o debate sobre responsabilidade do poder público, redes de acolhimento e as falhas no atendimento a pessoas com transtornos mentais, especialmente quando inseridas em contextos de extrema vulnerabilidade. A morte de Gerson, mais do que uma tragédia isolada, revela uma estrutura que falhou com ele desde a infância.

 

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