
A política, como sabemos, é feita de gestos. Em Brasília, raramente um movimento é isolado ou desprovido de cálculo. A decisão do presidente da Câmara, o paraibano Hugo Motta (Republicanos), de pautar a urgência para o projeto de lei que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil é mais do que um simples trâmite legislativo: trata-se de um sinal claro de tentativa de reaproximação com o presidente Lula (PT).
O gesto veio em momento oportuno. Um dia antes, o governo havia sofrido uma derrota significativa na eleição da CPMI do INSS, que terminou sob o comando de oposicionistas. A sequência de reveses fragilizava o Planalto, que precisava de uma resposta rápida. Foi nesse contexto que Lula e Motta se encontraram no Palácio da Alvorada. O presidente pediu uma vitória, e Motta entregou – colocando em votação a urgência do texto já no dia seguinte, na última quinta-feira (21).
Não se trata apenas de atender a um pedido do Planalto. Hugo Motta também carrega seus próprios desgastes. Sofreu derrotas internas na disputa pela relatoria da CPMI e enfrentou turbulências com o motim bolsonarista que invadiu a Câmara. Portanto, o gesto em relação ao projeto do IR parece ser também uma forma de reposicionar-se politicamente, buscando alinhamento com um governo que, apesar das dificuldades, ainda tem na pauta econômica e social uma arma importante para recuperar popularidade.
A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda foi promessa de campanha de Lula e tem apelo direto junto à classe trabalhadora. É uma agenda de fácil compreensão e alto potencial eleitoral. Para o Planalto, representa a chance de transformar um avanço legislativo em capital político. Para Motta, é a oportunidade de mostrar que tem influência real no Congresso e de se recolocar no tabuleiro nacional.
Em política, raramente coincidências são apenas coincidências. A aprovação da urgência pode ser vista como o primeiro passo de uma aliança pragmática. Lula ganha fôlego no Parlamento e Motta reforça sua posição de interlocutor estratégico. Resta acompanhar se esse gesto será pontual ou se marcará o início de uma relação mais estreita entre o presidente e o líder da Câmara.
No fim das contas, o Imposto de Renda pode estar se transformando não apenas em uma pauta de justiça tributária, mas também em moeda de aproximação política.
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