
Por Flávio Lúcio
Talvez o deputado federal e presidente da Câmara, Hugo Motta, tenha atravessado o Rubicão quando pautou, sem aviso prévio, a votação para a derrubada do decreto de Lula de aumento do IOF, o que ele fez quase na madrugada da última quarta-feira (25/06). Em seguida, Lula assistiu imóvel a um verdadeiro trator passar sobre a base do governo na votação, que aconteceu algumas horas depois, e que representou uma das grandes derrotas do Executivo no Congresso dos últimos 30 anos.
Foi muito grave o que vimos acontecer nesses últimos dias no país. E não apenas pela derrota acachapante, que revelou o castelo de cartas que é a base parlamentar de Lula no Congresso, que exibe a face de um governo que é uma verdadeira colcha de retalhos, disforme e sem cara. Mas, também, pela perda de arrecadação, que deixa o governo na parede e diante de um impasse: como Lula vai recompor o orçamento, cada vez comprometido com o pagamento de juros da dívida pública? Avança para retirar das Constituição os pisos da educação e saúde, que obriga o governo a investir no mínimo 18% e 15%, respectivamente, como querem Hugo Motta e o Centrão? Tudo para pagar juros? Enquanto isso, continua a dormir serenamente é uma prateleira da Câmara, a proposta de isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil — que beneficia os de mais baixa renda e parte da classe média — e aumentar a alíquota para quem tem renda superior R$ 600 mil anualmente.
Por isso, Hugo Motta virou o alvo preferencial do petismo nas redes sociais desde ontem. Aqui na Paraíba, o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, sem mencionar Hugo Motta, publicou em suas redes sociais: “a maioria do Congresso preferiu proteger os grandes interesses econômicos. Quem perde com isso não é só o presidente Lula. É o povo brasileiro!”
Como esse embate pode impactar as alianças eleitorais para 2026 na Paraíba ainda é cedo para dizer, mas, como tenho repetido nos comentários que faço às segundas e sextas-feiras no programa Ô Paraíba Boa, da 100.5, o atual bloco político que dá sustentação ao governo João Azevedo pode ser fortemente afetado pelo lançamento de Tarcísio de Freitas à Presidência da República, que começa a virar realidade. E esse movimento tem o poder de espalhar as peças pelo tabuleiro político paraibano e pode provocar um rearranjo de forças que colocará de ponta-cabeça as alianças aqui na Paraíba, e não só na chapa governista, mas na chapa da oposição, também.
Existe o problema das emendas parlamentares, que Flávio Dino teima e exigir transparência na aplicação, mas o buraco é ainda mais embaixo. Isso porque os partidos de Centrão são os principais fiadores nacionais da candidatura de Freitas: o Republicanos, presidido pelo deputado federal paulista e pastor da Igreja Universal, Marcos Pereira, o Progressistas, presidido pelo senador piauiense Ciro Nogueira, e o PSD, presidido por Gilberto Kassab, que hoje é secretário e principal articulador político de Tarcísio de Freitas. O PL espera pela decisão de Jair Bolsonaro para decidir que rumo vai tomar em 2026, mas é bastante provável, hoje, que siga o Centrão em apoio ao ex-ministro.
Não custa lembrar o óbvio: o presidente da Câmara Federal, Hugo Motta, é filiado ao Republicanos; o deputado federal, Aguinaldo Ribeiro, e o vice-governador, Lucas Ribeiro, são do Progressistas, e os dois deputados são duas expressivas lideranças nacionais do Centrão. Portanto, é improvável que, ostentando essas posições nacionais, algum deles deixe de apoiar a candidatura de Tarcísio de Freitas, sobretudo Hugo Motta, que é do mesmo partido do governador de São Paulo e deve a unidade em torno do seu nome para presidir à Câmara ao apoio de Marcos Pereira, que também era candidato. Preparem-se: o jogo será bruto e Centrão agora quer a Presidência.
Uma das dúvidas que desde já se apresentam de maneira irrefreável é essa: caso esse novo quadro político nacional persista, como fica o governador João Azevedo compondo uma chapa hegemonizada pelo Progressistas, que terá o candidato a governador e, talvez, também o vice, e o Republicanos, com o prefeito de Patos, Nabor Wanderley, candidato ao Senado? Uma tremenda saia justa, não é mesmo?
Por outro lado, pode ganhar corpo uma candidatura “lulista” ao governo. Por incrível que pareça, o atual presidente não tem ainda na Paraíba um palanque para chamar de seu. Sobretudo agora. Enfim, caso as atuais chapas sejam mantidas, com as candidaturas de Lucas Ribeiro, pelo governo, e Efraim Filho, pela oposição, uma candidatura como a do deputado estadual e presidente da Assembleia, o “lulista” Adriano Galdino, começará a fazer e sentido e pode virar uma realidade.