
O empresário e hoteleiro Ruy Gaspar, recém-chegado à cena turística de João Pessoa, parece ter desembarcado na capital paraibana com um plano pronto de “reinvenção” — e com pressa. Em entrevista recente ao jornalista Heron Cid, o potiguar já se colocou como espécie de redentor do turismo local. Falou em mudar o nome do mais tradicional hotel da cidade, classificou nosso Aeroporto Castro Pinto como um “gargalo” para o setor e, como se ainda não fosse o bastante, sugeriu o aterro das principais praias da capital paraibana. Sim, aterrar as praias.
A proposta não é apenas absurda do ponto de vista ambiental e paisagístico — é ofensiva. João Pessoa não precisa ser reinventada por ninguém, muito menos por quem ainda, sequer, desembalou as malas. O verão passado deixou claro que o nosso turismo está em plena ascensão: a rede hoteleira da capital operou com quase 100% de ocupação, sem que fosse necessário mudar nome de hotel, esticar faixa de areia ou rebaixar o aeroporto.
O Hotel Tambaú — ícone da arquitetura e da memória afetiva dos pessoenses — agora está sob nova concessão judicial, e é direito do empresário pensar em modernizações. Mas há uma diferença clara entre modernizar e apagar. Mudar o nome do hotel, por exemplo, é mexer com a identidade cultural da cidade. E querer duplicar o número de turistas alegando que “não vai caber na areia da praia” é mais do que hipérbole: é arrogância disfarçada de estratégia.
É no mínimo curioso — para não dizer preocupante — que alguém com tão pouco tempo de chão por aqui se sinta tão à vontade para propor mudanças tão radicais, sem antes dialogar com a cidade, com os paraibanos, com os que vivem e constroem o turismo local há décadas. O verdadeiro desenvolvimento do setor turístico não passa por decisões unilaterais, mas por planejamento integrado, escuta e respeito à cultura e ao meio ambiente.
Como diria o amigo jornalista e teatrólogo João Costa, “eu não quero acreditar” que o empresário potiguar pense como o prefeito de Natal, Paulinho Freire (União Brasil), que recentemente, após perceber o sucesso do Verão na capital paraibana, disse que João Pessoa iria voltar a “ser curral de Natal”. Uma declaração desnecessária, que gerou polêmica e foi motivo de desculpas públicas.
João Pessoa está sim crescendo. E está crescendo porque teve investimento público, mas, sobretudo, soube valorizar suas belezas naturais, sua tranquilidade, sua hospitalidade e, claro, o jeitinho paraibano de receber bem. Não precisamos de messias do turismo. Precisamos de parceiros. De gente que queira somar, não sobrepor.
Seja bem-vindo, Ruy. Mas lembre-se: aqui o sol nasce primeiro, e a sensatez precisa vir logo depois.