Ricardo Coutinho contraria o PT e anuncia neutralidade no segundo turno em João Pessoa
A posição de Ricardo Coutinho enfraquece a mobilização pretendida pelo partido em torno do esforço de unificação das forças progressistas no segundo turno em João Pessoa

O ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PT), anunciou neste domingo (13) sua decisão de permanecer neutro no segundo turno das eleições para a Prefeitura de João Pessoa. O posicionamento coloca Coutinho em desacordo com a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), que havia orientado seus filiados a apoiarem a candidatura de Cícero Lucena (Progressistas) como estratégia para impedir a ascensão do ex-ministro Marcelo Queiroga (PL), candidato alinhado ao bolsonarismo.

Em seu pronunciamento, Ricardo justificou sua escolha afirmando que não vê diferença substancial entre as candidaturas de Cícero e Queiroga e que não poderia “rebaixar seus sonhos” ao apoiar qualquer um dos projetos. “Não preciso de muitas palavras para dizer que não consigo me encaixar em nenhuma dessas duas candidaturas”, declarou.

Posicionamento contrário à orientação do PT

A decisão de Coutinho vai contra a resolução tomada pelo PT no último dia 8, em que o partido recomendou engajamento na campanha de Cícero Lucena como forma de evitar a vitória de Marcelo Queiroga, identificado como representante da extrema-direita. O ex-governador seguiu o mesmo caminho de neutralidade do ex-prefeito Luciano Cartaxo, cujo posicionamento já havia gerado repercussão no cenário político local.

Ricardo Coutinho argumentou que sua escolha é uma “objeção de consciência” e criticou duramente tanto Queiroga quanto Cícero Lucena. Ele ainda acusou o aliado de Cícero, o governador João Azevêdo, de ter conivência com facções criminosas que atuam nas periferias de João Pessoa. “Vou seguir a voz da minha consciência e a razão de que uma outra política é possível e necessária. Não posso rebaixar meus sonhos, trocando-os pela inutilidade de um voto em alguém que é um bolsonarista convicto e que adicionou a essa condição uma relação perigosa e nefasta com as facções criminosas que controlam as periferias da nossa Capital sob o olhar complacente e conivente de João Azevêdo”,
afirmou.

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Críticas ao discurso da direita

O ex-governador ironizou o discurso adotado por Queiroga e seus apoiadores, referindo-se à tentativa de se apresentarem como uma “Força Democrática Conservadora”. “Essa turma é criativa demais. Estão apelidando os bolsonaristas de ‘Força Democrática Conservadora’. Eu, hein, longe de mim”, comentou Coutinho em tom crítico.

Para ele, votar em qualquer um dos candidatos não reduziria o poder da extrema-direita no Brasil nem alteraria o cenário para as próximas eleições presidenciais de 2026. “Não existem diferenças de conteúdo entre essas candidaturas, e o voto em algum dos dois não estaria reduzindo o poder da extrema-direita no Brasil, hoje e em 2026″, completou.

Impacto político da decisão

A posição de Ricardo Coutinho já era esperada, contudo, não deixa de criar mais um impasse dentro do PT e enfraquecer a mobilização pretendida pelo partido em torno do esforço de unificação das forças progressistas no segundo turno em João Pessoa.

O cenário eleitoral na capital paraibana ganha ainda mais complexidade com a postura crítica de lideranças importantes como Coutinho e Cartaxo, evidenciando as dificuldades para a formação de alianças no campo da esquerda.